quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Conto de Terror - Vingança do Além

Vingança do Além


Por volta de meia-noite, com a TV ligada, Dona Marlene cochila no sofá da sala. Batendo a porta com força entra Júlia, a sua filha mais nova. Ela está angustiada e chorando muito. A mãe tenta acalmá-la e pergunta o que houve, mas a filha está arrasada e se sentindo culpada pelo ato terrível que acabara de cometer. Depois de tanto desespero, enfim, as duas sentam e conversam.

Dona Marlene fica em estado de pânico após ouvir o triste relato de sua filha e diz que tudo isso pode causar marcas profundas na vida da adolescente. O clima foi o pior possível naquela madrugada de terça-feira. Um fato lamentável que definitivamente afetou o futuro de Júlia.

Seis anos depois, lá está Júlia dirigindo a sua velha caminhonete azul, com o som no último volume e sua gata Charlote deitada no banco do passageiro. Toda animada e feliz, a jovem segue pela pacata estrada Belmiro Fontes rumo à casa de um novo namorado que conhecera há poucos meses pela internet. A viagem é longa, em média oito horas seguindo por povoados pouco habitados e estradas em péssimas condições. Mas para Júlia, que estava perdidamente apaixonada, isso tudo era um desafio fácil.

Onze horas da noite, o tempo chuvoso dificulta dirigir numa estrada toda esburacada e com sinalização precária, por isso Júlia redobra a atenção. A gata Charlote começa a ficar inquieta, como se estivesse pressentindo algo estranho. A gata começa a pular e arranhar o banco e os vidros do carro. Júlia desliga o rádio e tenta acalmá-la, mas uma sequência de coisas esquisitas e bizarras acontece.

Charlote fica em pé no painel e olha fixamente nos olhos de sua dona, demonstrando um olhar frio e maligno. Sem hesitar, ataca com as unhas o pescoço de Júlia, que pisa bruscamente no freio e para o carro. A gata cai no banco e fica se contorcendo e gemendo de dor, como se estivesse possuída por um espírito perverso. De repente inúmeras larvas, moscas e besouros começam a sair da boca, do nariz, dos olhos e das orelhas de Charlote. Os insetos começam a devorar, sem piedade, a pobre bichana.

Júlia chora e fica apavorada, sai da caminhonete e corre em direção a um casebre na beira da estrada para pedir ajuda. Ao chegar, uma menina aparentando ter uns cinco ou seis anos abre a porta e com uma voz alegre, diz:

- Eu sabia que viria me buscar, senta aqui e espere, tenho um presente pra você.

Júlia acha tudo muito estranho, senta num banco de madeira e começa a observar a sala. Ao seu redor manchas de sangue nas paredes, uma maca hospitalar enferrujada, bisturis e seringas no chão e muitos sacos de lixo acumulados. O casebre só tinha dois cômodos e um banheiro imundo, o cheiro de enxofre tomava conta do ambiente.

A menininha voltou com uma caixa embrulhada para presente e entregou à Júlia, que logo abriu e ficou chocada com o que tinha dentro, a cabeça de Dona Marlene, sua mãe, com um bilhete na boca escrito com sangue: “Vingança”. Uma cena macabra que causou uma confusão mental muito grande em sua mente.

Júlia jogou a caixa no chão e tentou bater na menininha, que misteriosamente desapareceu num piscar de olhos. O casebre começa a pegar fogo do nada. Seria tudo uma ilusão de sua cabeça? Como explicar? Ao sair correndo em meio às chamas, Júlia vai em direção ao carro e sente fortes dores e contrações no abdômen. Ela deita no chão, levanta a blusa e se assusta com o símbolo de um pentagrama invertido tatuado em sua barriga. O seu carro liga sozinho e sai em alta velocidade, deixando a pobre jovem nesse deserto de horrores.

A jovem olha novamente para o casebre em chamas e ele também desaparece, assim como a menininha, num piscar de olhos. De repente, o céu fica vermelho e começa a chover sangue. Júlia grita desesperadamente por socorro, mas tudo é em vão, ela se lembra do ato terrível que cometeu há seis anos.

A caminhonete volta em alta velocidade em sua direção e com uma freada brusca para em sua frente. De dentro do carro sai a mesma menininha estranha do casebre, toda machucada e suja, com um facão na mão. Ela olha no fundo dos olhos de Júlia e diz:

- Eu só queria nascer mamãe, mas você foi egoísta demais e não quis saber de mim. Eu só queria um pouco de amor e carinho. A minha alma não descansa em paz por sua culpa. Por que fez aquele aborto abominável? Agora chegou a hora de uma vingança do além, mamãe!

A menina levanta o facão e corta a cabeça de Júlia, que sai rolando pela beira da estrada.