segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conto - A Limpeza de Lívia

Estou postando o meu primeiro conto. Pretendo adaptar esse conto para uma futura peça teatral ou roteiro de cinema. Desculpem alguns possíveis erros de português, pois todos os meus textos ainda serão revisados. Espero que gostem. Podem deixar comentários.



A Limpeza de Lívia

É de manhã, os raios de sol entram pela janela entreaberta e se refletem em pequenos estilhaços de um espelho quebrado no chão. Na cama, o sangue pinta de vermelho o lençol branco e escorre pelo corpo nú de Lívia. Será vermelha a cor da “limpeza”?

Lívia, uma moça de 18 anos, morava sozinha num antigo apartamento herdado de seu falecido avô. Era uma menina triste que odiava o convívio em sociedade e só tinha uma única amiga. Se achava feia, estranha e não queria mais se alimentar. Sua ocupação era limpar os objetos incansavelmente, pois pensamentos obsessivos e compulsivos perturbavam a sua mente. Ela tinha “TOC”, cumpria rigorosamente diversos rituais de limpeza durante o dia e quando se sentia mal e triste, isso na maioria das vezes, Lívia costumava se cortar com cacos de vidro, uma forma de “limpeza” e alívio para ela.

Trancada em seu apartamento, ela se isolava da sociedade e mergulhava cada vez mais no seu mundo depressivo e obsessivo. As mãos de Lívia eram ásperas e enrrugadas, nos seus braços haviam muitos cortes abertos e curativos feitos com fita adesiva. O seu rosto tinha queimaduras resultantes do exagero de sabonete e de cremes cosméticos. Lívia aparentava ser bem mais velha.

Anita, sua única amiga, sempre ia visitá-la nas manhãs de terça. Juntas elas se divertiam ouvindo músicas em som alto, bebendo vinho, usando drogas e conversando. Anita tentava animar Lívia, tentava fazer ela sair de casa. Mas Lívia não queria, sentia medo das pessoas, dos olhares avaliadores e críticos dos desconhecidos.

Numa noite de segunda, a triste menina se desespera. Pega um pedaço de papel e escrevi um bilhete, coloca-o na sua estante e depois começa a chorar olhando para o imenso e velho espelho de seu quarto. O rádio estava ligado e tocava a música No surprises do Radiohead. Lívia pega uma corda no banheiro, a amarra no canto superior do espelho, joga a corda por cima do antigo lustre no teto e começa a suspender o pesado espelho. Ela se senti muito depressiva e suja, mais do que nos outros dias.

Lívia está nua e segura firme a corda. Deitada na sua cama começa a pensar num ato de purificação eterna, de “limpeza” absoluta. No espelho pendurado, um olhar morto e angustiante se reflete. Num momento desesperador, a menina olha para um salto vermelho que nunca havia usado. Com uma das mãos joga um livro pesado contra o espelho e solta a corda. Uma chuva de vidros “limpou” a doce e frágil menina para sempre.

Terça de manhã, Anita bate na porta do apartamento de Lívia e ninguém responde. Anita se desespera e decide arrombar a porta. Entra no quarto, fica chocada com a cena que vê e começa a chorar. O corpo de Lívia estava todo cortado por estilhaços de vidro, o sangue escorria pela cama e na estante havia um bilhete embaixo do salto vermelho.

No bilhete estava escrito: “Me desculpe Anita por fazer desperdiçar o tempo de sua vida com uma pessoa tão suja, triste e insignificante como eu. Será vermelha a cor da “limpeza”?” 



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