quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Conto - Sem Rumo


Esse Conto sombrio e depressivo relata o vazio na vida, a rotina inútil, a loucura e a falta de motivação para mudar. Pereira descobre o rumo de sua vida justamente trilhando um caminho sem rumo, encontrando o conformismo e um prazer estranho em destruir de forma violenta a sua própria vida. Um Conto triste, mas que vale a pena ser lido com uma visão crítica da nossa maneira de viver.

Gosto quando o leitor fica refletindo durante e depois de ler, e essa narrativa é boa para isso. Não costumo comentar muito sobre os meus textos e nem impor ao leitor uma única maneira de interpretação, pois todos os meus textos possuem diversas formas de interpretação, diversos entendimentos e diversas faces.

A dica que fica em relação ao Conto é a busca por um rumo, um caminho feliz para seguir. Espero que gostem e fiquem à vontade para comentar. 



SEM RUMO


Nessa manhã de Terça-feira Pereira acordou animado e com disposição. Pegou um pedaço de papel, escreveu um bilhete e o colocou na cabeceira da cama. Comeu um pedaço de bolo de chocolate, bebeu um copo d’água, vestiu a sua melhor roupa, deu um beijo em sua esposa que estava dormindo e partiu. Parecia um dia normal de trabalho, mas só parecia.

Ainda estava escuro, Pereira seguiu pelo caminho que costumava trilhar todas as manhãs para ir trabalhar, mas dessa vez não parou no ponto de ônibus, ele passou direto. Estava sorridente, encontrou conhecidos no ponto e os cumprimentou. As pessoas que estavam acostumadas a vê-lo ali toda manhã acharam estranho ele seguir em frente.

Pereira passou por diversas ruas e continuou andando, parecia estar sem rumo, porém feliz. Já estava andando a mais de 2 horas fazendo caminhos estranhos e até mesmo em círculos. Chegou a outro ponto e decidiu pegar o primeiro ônibus que passasse ali. Terminal João Dias foi o ônibus que passou e Pereira entrou. O seu celular começou tocar, era alguém da empresa, mas ele não quis atender e jogou o aparelho pela janela. Uma mulher que estava sentada ao seu lado achou estranha essa atitude.

Ele desceu antes de chegar ao Terminal e atravessou calmamente uma avenida muito movimentada. Os carros começaram frear, buzinar e quase atropelaram Pereira, que ficou rindo desesperadamente do nada. Seria uma loucura temporária?

A mente do coitado estava confusa, numa mistura frenética de sentimentos opostos. Ao mesmo tempo em que sentia uma felicidade inexplicável e uma sensação de liberdade por flanar, também sentia um vazio e uma agonia na alma. Era algo muito esquisito, uma força misteriosa parecia guiá-lo, aparentemente sem rumo.

Passeando entre subidas e descidas, avenidas, vielas e até ruas sem saída o pobre homem começou ficar exausto. Parou, sentou num banco quebrado de uma pracinha e ficou olhando as pessoas, os prédios, os carros, um cachorro de rua, o lixo pelo chão, a calçada e a cidade. Depois de meia hora ele foi pegar outro ônibus.

Dessa vez pegou o Terminal Campo Limpo e desceu depois de 4 pontos. Entrou rapidamente num Shopping, atravessou 7 vezes a mesma rua, pegou outro ônibus e foi para a Estação de Trem Grajaú. Pereira continuou a vagar sem destino, só observando a vida acontecendo ao seu redor.

Numa viela apertada e suja, não muito distante da Estação, um grupo de 5 jovens delinquentes estava espancando um morador de rua sem motivo aparente. Pereira ficou eufórico e correu para cima do bando, dando risada e falando alto:

- Parem seus idiotas! Deixem o pobre homem em paz, ele está na pior, mas não merece morrer. Vocês querem matar não é? Matar por diversão, por puro prazer. Pois então, satisfaçam essa vontade em mim seus vermes. Eu preciso morrer, me espanquem, me batam com esses ferros, com pedaços de pau e facas. É uma ordem!

Os delinquentes ficaram surpresos, mas gostaram da ideia. O chefe da gangue mandou o morador de rua correr e sumir da frente deles. O mendigo com os dentes quebrados, um corte na cabeça e todo ensanguentado correu sentido a Estação.

Os jovens eram todos de classe média alta e adoravam “brincar” de matar por prazer e diversão. Pereira se ajoelhou e começou a receber chutes violentos na boca até quebrar o maxilar e pauladas na cabeça até abrir o crânio e o sangue jorrar. Um dos jovens perfurou a barriga de Pereira com uma barra de ferro e outro moleque começou a dar uma surra de facão nas costas dele. O sangue já lavava a pequena viela.

Foi uma cena brutal e terrível de ver. Pereira apanhava calado e feliz, como se estivesse numa festa. Chegou uma hora em que ele ficou inconsciente e por fim morreu desfigurado no meio do lixo e do sangue. Um dos delinquentes ainda arrancou a cabeça dele com um serrote e a jogou para um cachorro comer. Uma selvageria, uma crueldade sem tamanho.

Os jovens correram quando policiais acompanhados do morador de rua chegaram ao local. A paisagem era assustadora e macabra. Um cachorro devorava os olhos, o nariz, os dentes e os miolos da cabeça de Pereira e ao seu lado estava o corpo irreconhecível numa poça de sangue com muito lixo ao redor.

Na casa de Pereira, sua mulher chorava incontrolavelmente lendo o bilhete que estava na cabeceira da cama:

“Querida Helena, depois desses últimos 5 anos tentando encontrar um sentido para a minha vida inútil e alienada, decidi parar de viver sem rumo e hoje encontrei o caminho certo, fui em busca da morte. Já cumpri minha missão aqui na Terra e não poderia continuar sendo um peso na sua vida. Hoje eu tenho um destino certo! Vá em frente, você é uma mulher encantadora e merece ser muito feliz sem mim.”

São 16 horas e o chefe da gráfica bate na mesa e fica indignado com a cena que se repete:

- Ei imprestável, acorda, acorda! É a quinta vez que te vejo dormindo, roncando e babando em cima do teclado do computador. Aqui tem um monte de serviços para fazer, vai ficar aí parado? Acho bom você dar um rumo para sua vida!

Pereira acorda assustado e dá um grito do fundo de sua alma!



Um comentário:

  1. hahahaaha. Muito bom o texto cara! Achei um barato quando chega na parte que um dito cujo arranca a cabeça com um serrote e ainda joga para um cachorro comer. Que brutalidade!!! Macabro ao estilo Ronaldex. rs Abç do Phelipão, o anônimo não anônimo. dhaudauhdasu Tudo isso com preguiça de logar pelo email rs

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