Esse
Conto sombrio e depressivo relata o vazio na vida, a rotina inútil, a loucura e
a falta de motivação para mudar. Pereira descobre o rumo de sua vida justamente
trilhando um caminho sem rumo, encontrando o conformismo e um prazer estranho em
destruir de forma violenta a sua própria vida. Um Conto triste, mas que vale a pena
ser lido com uma visão crítica da nossa maneira de viver.
Gosto
quando o leitor fica refletindo durante e depois de ler, e essa narrativa é boa
para isso. Não costumo comentar muito sobre os meus textos e nem impor ao
leitor uma única maneira de interpretação, pois todos os meus textos possuem diversas
formas de interpretação, diversos entendimentos e diversas faces.
A
dica que fica em relação ao Conto é a busca por um rumo, um caminho feliz para
seguir. Espero que gostem e fiquem à vontade para comentar.
SEM RUMO
Nessa manhã de Terça-feira Pereira acordou animado e com disposição.
Pegou um pedaço de papel, escreveu um bilhete e o colocou na cabeceira da cama.
Comeu um pedaço de bolo de chocolate, bebeu um copo d’água, vestiu a sua melhor
roupa, deu um beijo em sua esposa que estava dormindo e partiu. Parecia um dia
normal de trabalho, mas só parecia.
Ainda estava escuro, Pereira seguiu pelo caminho que
costumava trilhar todas as manhãs para ir trabalhar, mas dessa vez não parou no
ponto de ônibus, ele passou direto. Estava sorridente, encontrou conhecidos no
ponto e os cumprimentou. As pessoas que estavam acostumadas a vê-lo ali toda
manhã acharam estranho ele seguir em frente.
Pereira passou por diversas ruas e continuou andando, parecia
estar sem rumo, porém feliz. Já estava andando a mais de 2 horas fazendo
caminhos estranhos e até mesmo em círculos. Chegou a outro ponto e decidiu
pegar o primeiro ônibus que passasse ali. Terminal João Dias foi o ônibus que
passou e Pereira entrou. O seu celular começou tocar, era alguém da empresa,
mas ele não quis atender e jogou o aparelho pela janela. Uma mulher que estava
sentada ao seu lado achou estranha essa atitude.
Ele desceu antes de chegar ao Terminal e atravessou
calmamente uma avenida muito movimentada. Os carros começaram frear, buzinar e
quase atropelaram Pereira, que ficou rindo desesperadamente do nada. Seria uma
loucura temporária?
A mente do coitado estava confusa, numa mistura frenética de
sentimentos opostos. Ao mesmo tempo em que sentia uma felicidade inexplicável e
uma sensação de liberdade por flanar, também sentia um vazio e uma agonia na
alma. Era algo muito esquisito, uma força misteriosa parecia guiá-lo,
aparentemente sem rumo.
Passeando entre subidas e descidas, avenidas, vielas e até
ruas sem saída o pobre homem começou ficar exausto. Parou, sentou num banco
quebrado de uma pracinha e ficou olhando as pessoas, os prédios, os carros, um
cachorro de rua, o lixo pelo chão, a calçada e a cidade. Depois de meia hora
ele foi pegar outro ônibus.
Dessa vez pegou o Terminal Campo Limpo e desceu depois de 4
pontos. Entrou rapidamente num Shopping, atravessou 7 vezes a mesma rua, pegou
outro ônibus e foi para a Estação de Trem Grajaú. Pereira continuou a vagar sem
destino, só observando a vida acontecendo ao seu redor.
Numa viela apertada e suja, não muito distante da Estação, um
grupo de 5 jovens delinquentes estava espancando um morador de rua sem motivo
aparente. Pereira ficou eufórico e correu para cima do bando, dando risada e
falando alto:
- Parem seus idiotas! Deixem o pobre homem em paz, ele está
na pior, mas não merece morrer. Vocês querem matar não é? Matar por diversão,
por puro prazer. Pois então, satisfaçam essa vontade em mim seus vermes. Eu
preciso morrer, me espanquem, me batam com esses ferros, com pedaços de pau e
facas. É uma ordem!
Os delinquentes ficaram surpresos, mas gostaram da ideia. O
chefe da gangue mandou o morador de rua correr e sumir da frente deles. O
mendigo com os dentes quebrados, um corte na cabeça e todo ensanguentado correu
sentido a Estação.
Os jovens eram todos de classe média alta e adoravam
“brincar” de matar por prazer e diversão. Pereira se ajoelhou e começou a
receber chutes violentos na boca até quebrar o maxilar e pauladas na cabeça até
abrir o crânio e o sangue jorrar. Um dos jovens perfurou a barriga de Pereira
com uma barra de ferro e outro moleque começou a dar uma surra de facão nas
costas dele. O sangue já lavava a pequena viela.
Foi uma cena brutal e terrível de ver. Pereira apanhava
calado e feliz, como se estivesse numa festa. Chegou uma hora em que ele ficou
inconsciente e por fim morreu desfigurado no meio do lixo e do sangue. Um dos
delinquentes ainda arrancou a cabeça dele com um serrote e a jogou para um
cachorro comer. Uma selvageria, uma crueldade sem tamanho.
Os jovens correram quando policiais acompanhados do morador
de rua chegaram ao local. A paisagem era assustadora e macabra. Um cachorro
devorava os olhos, o nariz, os dentes e os miolos da cabeça de Pereira e ao seu
lado estava o corpo irreconhecível numa poça de sangue com muito lixo ao redor.
Na casa de Pereira, sua mulher chorava incontrolavelmente
lendo o bilhete que estava na cabeceira da cama:
“Querida Helena, depois
desses últimos 5 anos tentando encontrar um sentido para a minha vida inútil e
alienada, decidi parar de viver sem rumo e hoje encontrei o caminho certo, fui
em busca da morte. Já cumpri minha missão aqui na Terra e não poderia continuar
sendo um peso na sua vida. Hoje eu tenho um destino certo! Vá em frente, você é
uma mulher encantadora e merece ser muito feliz sem mim.”
São 16 horas e o chefe da gráfica bate na mesa e fica
indignado com a cena que se repete:
- Ei imprestável, acorda, acorda! É a quinta vez que te vejo
dormindo, roncando e babando em cima do teclado do computador. Aqui tem um
monte de serviços para fazer, vai ficar aí parado? Acho bom você dar um rumo
para sua vida!
Pereira acorda assustado e dá um grito do fundo de sua alma!
hahahaaha. Muito bom o texto cara! Achei um barato quando chega na parte que um dito cujo arranca a cabeça com um serrote e ainda joga para um cachorro comer. Que brutalidade!!! Macabro ao estilo Ronaldex. rs Abç do Phelipão, o anônimo não anônimo. dhaudauhdasu Tudo isso com preguiça de logar pelo email rs
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